Seminário na Alesc discute a dependência tecnológica
A necessidade de se impor limites ao uso da internet e de acompanhar o que os filhos fazem quando estão conectados estão entre as atitudes que os pais devem adotar para evitar que seus filhos sejam vítimas da chamada dependência tecnológica, ou seja, o vício no uso de dispositivos eletrônicos. O assunto foi abordado durante o seminário online da Semana Catarinense de Conscientização à Dependência Tecnológica, realizado na noite desta quinta-feira (30).
Organizado pela Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, Projeto Slowphone, Instituto Tecnologia e Dignidade Humana e Brasil pela Tecnologia Segura, o evento reuniu pais, psicólogos, médicos e outros especialistas no assunto para discutir quais as estratégias necessárias para o enfrentamento desse problema.
A semana de conscientização sobre a dependência tecnológica é resultado da Lei Estadual 17.785/2019, aprovada pela Assembleia Legislativa em 2019. Conforme a autora da lei, a ex-deputada Marlene Fengler, que coordena a Escola do Legislativo, o objetivo da norma é alertar para um problema que é de desconhecimento de muitos pais, mas que já compromete o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
“É algo que a sociedade ainda discute pouco”, alertou. “O uso saudável da tecnologia é importante e irreversível na vida de todos nós. Mas é preciso fazer as pessoas entenderem que o excesso é um vício, como o álcool, que precisa ser enfrentado. É preciso encontrar o equilíbrio, mas se isso é difícil para nós, adultos, imagina para as crianças.”
Prejuízos
A médica pediatra e psicóloga Catarina Marques apontou os sintomas e as consequências principais da dependência tecnológica em crianças e adolescentes. Entre os sintomas, estão irritabilidade ou depressão, prejuízo nas relações familiares e nos estudos, desinteresse pela vida real e pelo ambiente social. Já as consequências, prejuízos à saúde, dificuldade de socialização e no aprendizado, aumento da ansiedade, sedentarismo, transtornos no sono e na alimentação.
“São recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria limitar o tempo de uso da internet, não usar no próprio quarto, estimular a prática de atividades físicas”, disse Catarina. “Já há estudos que comprovam que quanto mais tarde a introdução das crianças aos dispositivos eletrônicos, melhor é para elas.”
Papel dos pais
Para o presidente do Conselho de Educadores da Escola de Pais do Brasil, Célio Alves de Oliveira, buscar o equilíbrio no uso da internet é difícil mesmo para os adultos, mas compete aos adultos estarem sempre atentos a essa questão.
“Os pais precisam aprender a utilizar essas tecnologias para acompanhar seus filhos e agir de forma preventiva sempre que uma ameaça foi detectada”, comentou. “Não se trata de uma postura autoritária, mas abrir um espaço de diálogo dentro da família em momentos oportunos, para que os filhos aprendam o que pode e o que não pode.”
Roseane Bernatt, do Instituto Tecnologia e Dignidade Humana, também destacou a importância da prevenção e da orientação dos pais. “É preciso combinar antes de usar [a internet], determinar o horário”, orientou. “As pessoas só vão aprender a usar bem quando forem educadas para isso. E isso se aplica às crianças.”
Ela ressaltou, ainda, a necessidade dos pais acompanharem se os limites combinados com os filhos realmente estão sendo respeitados. “Os pais têm que saber e acompanhar, sim, o que os filhos estão fazendo.”
O empreendedor Ítalo Fogaça, autor de dois livros sobre dependência tecnológica, acredita que a dependência tecnológica está comprometendo o desenvolvimento das novas gerações. “As crianças expostas excessivamente estão demorando mais para aprender a falar”, comentou. “Quanto mais tempo ela passa, mas debilitada é a saúde física e mental dela. Vamos promover uma conscientização e investir o nosso tempo nessa mudança.”
Dificuldades na escola
A pedagoga Márcia Fiatis abordou as consequências negativas da dependência na aprendizagem. “Apesar de ter acesso a muita informação, temos visto que a criança está monotemática. O que interessa a ela tem um nível de atenção muito grande e o que não interessa, é totalmente ignorado. E na escola não se aprende só aquilo que interessa”, comentou.
Além da dificuldade de concentração, segundo Márcia, há prejuízos na parte motora, na escrita, na leitura e na capacidade de interpretação. “Elas se perdem no tempo quando estão conectadas e não conseguem gerir esse tempo em outras atividades”, disse.
O seminário foi mediado por Fabiano Lauser, do Projeto Slowphone, que desenvolve ações em prol do uso saudável das novas tecnologias. Ele considerou que os pais devem dar o exemplo para poder cobrar responsabilidade dos filhos.
“Crianças absorvem nosso comportamento, não o que nós falamos. Então, temos que primeiro começar em nós, adultos, esse uso saudável da tecnologia”, afirmou.
Para ele, a falta de convencimento sobre os perigos da dependência tecnológica se deve ao “glamour e ao deslumbramento” que está relacionado ao uso das novas tecnologias, a exemplo do que ocorreu com o cigarro no passado. Lauser também defendeu que as plataformas e empresas de tecnologia sejam responsabilidades pelas consequências da dependência. “Não se trata de culpar apenas o indivíduo.”
Marcelo Espinoza
AGÊNCIA AL